Uma operação da Polícia Federal (PF) revelou um esquema de corrupção envolvendo policiais rodoviários federais (PRFs) e militares (PMs) que atuavam como facilitadores para o tráfico de drogas comandado por José Heliomar de Souza, conhecido como “Léo”. O traficante é apontado como líder de uma organização criminosa sediada em Porto Velho, Rondônia, com ramificações interestaduais.
Os agentes da PRF Diego Dias Duarte, apelidado de “Robocop”, e Raphael Angelo Alves da Nóbrega cobravam até R$ 2 mil por quilo de cocaína transportada para o Comando Vermelho (CV). Em algumas operações, a dupla teria movimentado mais de meia tonelada de entorpecentes, resultando em ganhos de até R$ 1 milhão. Ambos, junto a outros três policiais militares, foram alvos da Operação Puritas, deflagrada há 10 dias.
Rede criminosa e atuação das forças de segurança
A PF descobriu que os policiais envolvidos não apenas transportavam drogas, mas também usavam informações privilegiadas para facilitar as operações do grupo criminoso e direcionar flagrantes contra quadrilhas rivais. Além disso, parte das drogas apreendidas era devolvida ao traficante Heliomar, que chegava a reter até 30% da carga para revenda.
Heliomar utilizava o dinheiro do tráfico para financiar negócios como mercados, locadoras de carros e transportadoras em Porto Velho, prática que acelerou o crescimento da organização criminosa. As investigações revelaram que os policiais envolvidos realizavam consultas em sistemas da PRF e alugavam veículos para dificultar o rastreamento de suas ações ilícitas.
Modus operandi detalhado
Interceptações telefônicas e análise de documentos bancários demonstraram como os agentes operavam. Em conversas de dezembro de 2021, Diego e Raphael negociaram valores para transportar 70 kg de cocaína, considerando R$ 35 mil “baixo” e exigindo pelo menos R$ 105 mil pelo serviço. Na ocasião, chegaram a postergar a entrega devido às festas de fim de ano, mas cederam à pressão de Heliomar, que afirmou que o transporte abriria novas oportunidades para eles.
Raphael foi preso em flagrante em julho de 2023, em Canarana (MT), ao transportar 542 kg de cocaína. Após capotar a caminhonete carregada com drogas, ele tentou fugir em um táxi, mas foi capturado. Diego, por sua vez, foi preso na Bahia, onde a PF apreendeu um cofre contendo R$ 580 mil e US$ 8,1 mil em espécie em sua residência.
Envolvimento de policiais militares
Além dos PRFs, policiais militares também faziam parte do esquema. Em janeiro de 2023, o sargento Gedeon Rocha de Almeida e o cabo Roberto Paulo Aguiar Souza, da PMRO, foram presos transportando 500 kg de cocaína em Vilhena. Enquanto Aguiar dirigia o veículo com a droga, Gedeon atuava como batedor, alertando sobre possíveis barreiras policiais.
Os dois admitiram o envolvimento com Heliomar, e a pistola apreendida com Aguiar estava registrada em nome do traficante. Outro PM da Bahia, Francisco de Assis Melo, foi preso transportando R$ 689 mil em espécie e munições de fuzil a mando do grupo.
Lista de envolvidos na operação
A Operação Puritas identificou 15 integrantes da organização criminosa, incluindo:
- José Heliomar de Souza (Léo): líder do grupo, responsável pela logística do tráfico.
- Diego Dias Duarte (Robocop): PRF, transportava drogas e fornecia suporte logístico.
- Raphael Angelo Alves da Nóbrega: PRF preso em flagrante com drogas.
- Gedeon Rocha de Almeida e Roberto Paulo Aguiar Souza: PMs de Rondônia envolvidos no transporte de cocaína.
- Lucas Acácio Botelho (Don Príncipe): articulador do CV no Ceará.
Impacto e continuidade das investigações
O esquema expõe uma rede profundamente enraizada de corrupção e cooperação ilícita entre agentes de segurança e o tráfico de drogas. A PF continua a aprofundar as investigações para desmantelar completamente a organização e responsabilizar todos os envolvidos.
Fonte: Folha do Sul