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    Rádio Porto Velho

Levantamento mostra que pessoas assintomáticas têm enorme quantidade de vírus

Estudo pode abrir caminhos na busca de medicamentos ou vacinas contra a doença

Quando se fala de infecção viral, a situação esperada pela ciência é que quanto mais quantidade de vírus, maior serão os sintomas. Uma análise recente feita por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no âmbito de estudos populacionais para avaliar os impactos da covid-19, contraria a expectativa e surpreende os especialistas. A pesquisa indica que algumas pessoas sem sinais da doença têm uma carga viral, isto é, uma concentração de vírus, muito elevada.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pesquisas em todo o mundo apontam que portadores assintomáticos do novo coronavírus são responsáveis por cerca de 60% da propagação. São pessoas que pensam estar saudáveis, mas que transmitem o vírus. Em tese, elas seriam mais contagiosas, já que têm mais vírus e circulam mais justamente por não se sentirem doentes. Mapear os assintomáticos, portanto, é essencial para controlar a pandemia. É o que afirma o coordenador da pesquisa e professor do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Renan Pedra.
“Ao observar os dados com mais atenção, verificamos que algumas pessoas tinham uma carga viral assustadoramente alta para os nossos padrões e não tinham manifestado nenhum sintoma. Isso vai contra a lógica que a gente estabeleceria utilizando nosso entendimento de infecções virais”, explica.
As quebras de lógica em meio aos estudos “são sempre interessantes”, aponta Pedra, principalmente quando se trata de um vírus novo com o qual o mundo está aprendendo a lidar em tempo real. É exatamente nessas diferenças de padrões que se pode descobrir mecanismos importantes para que a situação exista.
“Então, fica a pergunta: como essas pessoas que têm uma carga viral tão alta conseguem se sustentar sem manifestação dos sintomas? Agora, estamos buscando responder a isso”, situa o coordenador.
Variabilidade genética, histórico natural e mutação do vírus são as principais hipóteses levantadas pelos pesquisadores para explicar esse ponto fora da curva. “Entendendo qual é o mecanismo pelo qual esse processo está acontecendo, baixo sintoma com alta carga viral, podemos tentar criar situações para que essa mesma lógica se repita, reduzindo, assim, os sintomas ou mesmo com a possibilidade de intervir no ciclo de réplica ativa do vírus para poder impedir que ele passe para frente”, exemplifica.
Testes
Para prosseguir com essa e outras descobertas, o grupo mantém o estudo populacional em massa para caracterizar quantas pessoas contraíram a covid-19. As análises consistem na realização de testes moleculares e sorológicos, aliada ao acompanhamento dos entrevistados ao longo do tempo e à aplicação de questionários para entender as particularidades de cada indivíduo.
“Queremos matar o vírus, mas, se conseguíssemos descobrir mecanismos para que todos que fossem infectados não manifestassem sintomas, isso já seria um avanço imenso comparado com o que a gente tem hoje”, completa o especialista.
O estudo é uma parceria com a prefeitura de Betim, município de Belo Horizonte e que conta com mais de 430 mil habitantes. Junto ao pesquisador Renato Santana, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da UFMG, Pedra e o restante do grupo já realizaram diagnóstico em 3.240 pessoas em três rodadas de pesquisa. São 1.080 pessoas avaliadas a cada 21 dias — distância de tempo preconizada pela OMS para estudo —, com seleção a partir de sorteio de endereços para a testagem populacional.
Subnotificação
Os resultados conseguiram comprovar, até o momento, que existe uma grande quantidade de subnotificação no município mineiro. Nas últimas duas rodadas, para cada caso registrado no boletim epidemiológico, a estimativa é de que outras 20 pessoas tiveram contato com vírus, mas não houve notificação. Isso porque, como Pedra afirma, a política de testagem se concentra nos pacientes que estão com síndrome gripal, sendo que as análises estimam que a transmissão assintomática seja responsável por aproximadamente de 60% da propagação.
“De todas as interações que se fizer com as pessoas que têm o vírus, a maior parte delas estará sem sintomas. E são elas que acabam sendo responsáveis pela maior sustentação da epidemia. Não só por esse comportamento de sair mais de casa, mas, por esse ser um grupo maior do que o das pessoas que são sintomáticas. Então, o grosso da sustentação da pandemia ao longo do tempo é proveniente, em grande parte, dessas pessoas assintomáticas”, explica.
Correio Braziliense
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