Já faz algum tempo, mas ainda lembro. Antes de 1988, ano da promulgação da atual constituição, que instituiu o concurso público e a estabilidade, residia ainda na cidade que nasci, Barbalha, no interior do Ceará. A cidade era dominada politicamente por algumas famílias cujo sobrenome era o maior patrimônio. Eram consideradas ou chamadas famílias ricas.
Vejo hoje que nem tanto. O restante da população é que era absurdamente pobre, estabelecendo uma esdrúxula relação entre poderosos e temerosos. Todos os empregos públicos, sem exceção, eram ocupados por pares dessas famílias e o acesso a estes cargos dependia da resposta a uma única pergunta: DE QUEM TU É FI? Essa cultura de clientelismo era tão forte que até nas empresas privadas, nas poucas que existiam na época, o acesso, na maioria dos casos aconteciam por meio de indicação. É óbvio que sobravam alguns empregos que não serviam para essas famílias: Gari, motorista, vigia, etc.
Mesmo assim, elas tinham o controle e ocupava com os seus apadrinhados. Os chamados “Puxa Saco”. Esses empregos ou subempregos eram diretamente vinculados a uma condição: O voto. Essa era apenas uma das vertentes do chamado “Voto de Cabresto” cuja prática se constituía como uma das maiores tradições políticas do Nordeste. Mesmo após a atual Constituição a prática imoral continuou por alguns anos até a realização do primeiro concurso pelo Município. Os que conseguiam emprego por esse meio já sabiam que só teriam garantidos os próximos quatro anos, ou menos, se traíssem o seu protetor. Não importava se eram ou não competentes.
Tinha que ter vínculo com o grupo político que estava no poder e mais do que isso, defender incondicionalmente, os interesses políticos daquele grupo. Algo assim está por vir. O Fim da estabilidade no Serviço Publico está próximo e as práticas nefastas de empreguismos, rachadinhas, clientelismos, apadrinhamentos, etc, apontam no horizonte como uma premente realidade. É o fim da meritocracia e o trágico declínio da qualidade no serviço público. A velha
Barbalha voltará aos domínios dos senhores feudais e os currículos recheados de diplomas e certificados, serão substituídos pela resposta a uma simples pergunta.
José Edmilson da Silva é Engenheiro Agrônomo, Bacharel em Direito, Professor e Servidor Público Federal