No começo desta semana, a pergunta de uma Ariquemense no Twitter gerou discussões sobre a divisão territorial de Rondônia: “Que problema é esse que os portovelhenses ficam chamando Ariquemes de interior?”.
Para entender os motivos que levaram Porto Velho a ser chamada de capital, o G1 conversou com o professor Ricardo Gilson da Costa Silva, doutor em Geografia Humana, que atualmente leciona na Universidade Federal de Rondônia (Unir) e faz parte do grupo de pesquisa em Gestão do Território e Geografia Agrária da Amazônia (GTGA).
Capital x Interior — Foto: Reprodução/Twitter
Para começo de conversa, é importante lembrar que Porto Velho nasceu em 1907 durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM) e em 1914 foi elevada a município do estado do Amazonas. Próximo dali, Guajará-Mirim fazia parte do estado de Mato Grosso.
Só na década de 1940 foi instituído o Território Federal do Guaporé e mais tarde, em homenagem ao Marechal Cândido Rondon, o local passou a se chamar Território Federal de Rondônia.
No início dos anos 1970 inicia “a colonização do território” com abertura da floresta para assentamentos rurais e projetos de agropecuária — gerando migração. O fluxo migratório nesse período criou cinco cidades:
- Ariquemes,
- Ji-Paraná,
- Cacoal,
- Pimenta Bueno e
- Vilhena.
Ariquemes recebeu esse nome em homenagem ao povo indígena Arikeme, atualmente extintos. Eles eram os habitantes originais dessa região.
Em 1981, Rondônia passou a ser estado e de lá pra cá o crescimento não parou. Hoje temos 52 municípios.
Mas por que Porto Velho é capital?
Capital x Interior: Entenda
Essa é normalmente uma decisão política que leva em conta a quantidade populacional e a economia.
“A capital serve para a gestão política e jurídica do estado. Naquela época [quando Rondônia foi transformada em estado] não poderia ser outra capital, já que Ji-Paraná ainda era uma cidade pequena. Em função dessa situação geo-histórica, Porto Velho se configura capital”, comenta o professor.
“Além disso, Porto Velho tem peso econômico com quase 40% do PIB. Tem cerca de 540 mil habitantes, o que equivale a quase 30% da população do estado. Enquanto Ji-Paraná, que é a segunda maior cidade, tem 130 mil, o que dá 7,2% do total”, diz o doutor.
Segundo Ricardo Gilson, “capital e interior” é uma divisão de espaços, mas muitos veem o interior como algo atrasado, pejorativo e isso não está certo. Foi algo construído, na linguagem popular vão chamando tudo que não é capital de interior.
“Quando se tem uma capital, as outras cidades são chamadas de interior para se ter uma divisão territorial, mas essa relação não deve ter preconceito. O que eu diria aos colegas é que o mais importante não é ser capital ou interior. O mais importante é termos qualidade de vida e tranquilidade. Cobrar do estado e prefeituras uma boa educação, saúde pública e que as cidades sejam acolhedoras”, explica.
Tentativas de mudar a capital
Porto Velho, capital de Rondônia — Foto: Reprodução
Durante as pesquisas, o professor encontrou pequenos debates e tentativas de mudar a capital de Rondônia. Uma delas, na década de 90, quando queriam colocar Ji-Paraná nesse posto, mas o debate nunca foi para frente.
Também tiveram outras propostas, como a de um deputado, de criar o estado do Aripuanã com Vilhena, Pimenta Bueno e um pedaço do Mato Grosso, mas também não houve sucesso.
Capitais mudam
A primeira capital do que conhecemos hoje como Brasil foi Salvador, ainda nas épocas de colônia e império. Após diversas movimentações pela História, e enquanto moradia da família real portuguesa, o Rio de Janeiro veio a tomar esse título.
Uma terceira escolha aconteceu em um passado recente: o Brasil inaugurava sua nova capital Brasília como “símbolo de progresso”, com projeto do urbanista que lembra um avião. Entenda a criação de Brasília.
Fonte: G1RO